terça-feira, janeiro 03, 2006

O Último Adeus

O sangue já está a escorrer pelos meus braços...Talvez daqui a umas horas deixe de chatear as pessoas de quem gosto, pessoas essas que me odeiam...Afinal ganhei coragem. Não foi necessária muita deliberação. Bastou-me rever a minha vida. É oca, triste, desprovida de qualquer sentido...Além do mais, esta doença consome-me há muito. Este conjunto de células malignas que me corroí os pulmões...Tusso sangue, falo catarro...Ando tonto, durmo pouco, perdi o apetite...Ainda tentei viver, mas não consegui. Ainda tentei trazer felicidade às pessoas, mas ninguém me quis ouvir. Andei confuso comigo próprio, procurei prazeres sexuais doentios, odiei coisas que não me odiavam, vivi agarrado ao passado...e para quê? Para viver...Viver o quê? Sei que vou morrer, mais tarde ou mais cedo...Que morra já, Já!!!
Peço desculpa a todos que me ouviram, peço desculpa a todos que leram os meus idióticos posts. Peço desculpa a quem perdeu tempo comigo. Isto não é uma brincadeira. Isto é sério. A isto chama-se desistência. A isto chama-se inteligência. Nunca fui dotado de inteligência, sempre fui um fraco que tentou agradar a quem não merece e tentou esquecer quem não se esquece. Nunca fui o preferido de alguém. Nunca ninguém me pegou nos braços e disse, "Girafóide, és uma pessoa que eu admiro, que eu respeito, de quem eu quero cuidar..."...Fui sempre tratado como um demente. Mas eu nunca me senti assim. Entreguei-me a uma vida que só desgraças me trouxe...Queria ser pintor, mas a Sorte não me concedeu esse desejo...Queria ser amado, e também a Sorte não me ouviu...Mas o Azar sempre esteve presente...Foi o Azar que me fez assim...Um triste e pobre homem solitário, sem ninguém que o aconchegue...Sem ninguém que o conforte numa altura terrível da Vida, como esta em que me encontro...
Não chorem no meu funeral, não digam que fui boa pessoa, se eu nem pessoa fui...Não sejam hipócritas...Cuspam para o caixão como têm cuspido para cima de mim, ao longo de todo este tempo...Eu só queria ser alguém. Simplesmente alguém.
Eu já estou a ficar zonzo. Já escorreu muito sangue libertado pela faca oxidada da Salvação.

Bem hajas e boa vida para vocês,

Sempre vosso,

Girafóide.