terça-feira, novembro 22, 2005

A minha história que nunca mais acaba [parte 3]

Num dos dias que sucedeu ao dia mais importante da minha vida, estava eu naquilo a que Vítor apelidou mais tarde de Cú de Judas, quando voltei a encontrar as mesmíssimas personagens.
Não há dúvida que tinham estado a comer a mesma feijoada de que eu me tentara alimentar. Feijoada essa que apresentava vestígios de carne e tudo!
Vai-se lá saber o porquê de se encontrarem naquele sítio, mas de certeza que não era devido às famosas descargas de produtos altamente biodegradáveis no solo dessa quase localidade.
Desta vez, estas personagens apresentavam-se aparentemente embriagadas e pediram-me boleia de volta para a civilização. Eu não liguei. No entanto desta vez, uma delas apresenta-se a mim como sendo Sir Arthur Mc.Aco, descendente do Barão Escocês Euan Aitcheson Mc.Aco.
Entretanto aparece uma lombriga que nos perguntou o caminho para casa. Eu disse-lhe que não conhecia a zona e ela respondeu que não devia ter provado as sopas de sarrabulho.
Mc.Aco parecia ser alguém com dinheiro, que efectivamente não precisava da minha boleia para nada. Mais tarde percebi mesmo que ele tinha um motorista privado, e com uma simples chamada telefónica podia sair dali. No entanto a outra persongem, Vítor voltou-me a pedir boleia, enquanto Mc.Aco se ria descontroladamente com a figura que um travesti fazia em cima de uma mesa de matraquilhos novinha em folha (talvez a única coisa nova que se encontrava naquele lugar). Além destes dois, estava presente Aníbal, esse escroto ambulante que gosta de pêssego em calda e tinha andado na tropa com Vítor. Mais tarde vim a saber que algo bizarro se terá passado entre eles quando andavam na guerra.
Algo que niguém sabe, nem soube, a não ser o avô já falecido de Vítor, três paciêntes suas de idade já avançada, Gilberto e Nunes (dois colegas deles da tropa, mortos em combate), a sua andorinha correio (e não pombo correio), as andorinhas filhas da andorinha correio, o pica-pau vizinho da andorinha correio, a namorada de Aníbal, a ex-namorada de Aníbal, a ex-ex-namorada de Aníbal, a prima da ex-ex-namorada de Aníbal, a sogra de um gajo que por acaso não estava ali de quem eu não me lembro do nome, a formiga Cecília que fora outrora chefe de formigueiro mas que agora se encontra no desemprego, um homem feito de chocolate, um bacalhau maricas que parecia uma galinha, um galinha preta cujo pescoço havia sido cortado há muito, um bando de 17 moscas que um dia passaram e ouviram a conversa (mas que também devem ter morrido, dado o tempo de vida de uma mosca), uma lebre esquizofrénica emigrante da Papua-Nova Guiné, uma vidente com um olho de vidro e ainda um girassol azul (pelo menos era isso que lhe chamavam).
Vítor queria mesmo aquela boleia. Era a penúltima hipótese que tinha para escapar à vergonha de entrar no carro privado de Mc.Aco e denotar um ar claramente ébrio...

(CONTINUA)